sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Cantinho do Divã

Cantinho do Divã
                         com Cristiane Palmeira

Hora do Conto - O Principezinho Tirano


Pra falar um pouquinho sobre o conto “O principezinho tirano”, a psicóloga Cristiane Palmeira fez algumas considerações através de um texto adaptado de uma matéria da Revista Mente e Cérebro.
O texto diz o seguinte:



TEMPOS DE TIRANIA INFANTIL?
Atualmente se observa uma crescente queixa familiar com relação às atitudes de autoritarismo de crianças e adolescente frente a seus pais. Situação invertida de gerações passadas, tal comportamento causa estranhamento aos adultos.
Questão de temperamento? Genética? Os tempos mudaram? Os pais não são mais os mesmos de antigamente?
Essas questões nos conduzem a questionar como um ser humano se constitui como essencialmente humano. Nosso desenvolvimento se dá naturalmente ou precisamos de algo a mais?
A biologia nos ensina que, ao nascer estamos dotados de um equipamento orgânico que se desenvolverá segundo suas informações genéticas, mas tais predisposições/potencialidades poderão vir a se manifestar de uma forma ou de outra em profunda relação com o ambiente em que esse organismo irá crescer. Importante salientar que, por ambiente podemos entender tudo o que cerca a criança e, ainda sua família e o contexto histórico-sócio-cultural.
Então, para nos tornarmos o que somos percorremos um caminho que não é tão simples como o das outras espécies. Em especial, porque precisamos de um outro que, desde o início de nossa vida se ocupe dos cuidados básicos e, além disso, que nos introduza no convívio com o mundo. É nesse contato e convívio que construímos nossa subjetividade.
O que isso tem a ver com a questão dos limites e da tirania infanto-juvenil?
Pelo texto do principezinho tirano podemos levantar alguns pontos importantes para reflexão.
Desejantes por terem um filho, o rei e a rainha já destinam um lugar especial para o filho...”o único rei”.
O bebê nasce e recebe todos os mimos possíveis, a despeito da orientação do médico.
Eis o que ele faz: ocupa o lugar que já lhe havia sido destinado desde a fala dos pais e se porta como se fosse mesmo o único rei.
Sem limites, sem frustrações ou perdas com que ele tivesse que aprender a lidar, o pequeno principezinho se torna um tirano, exigindo mais e mais e, mesmo assim, ainda insatisfeito.
Podemos nos enganar pensando que tudo isso é “culpa” dos pais. No entanto, o principezinho não é apenas uma vítima. Ele também decide assim se colocar diante do desejo do outro, posição de responsabilidade sobre essa escolha. 
Nesse sentido, podemos pensar que as crianças e adolescentes atuais nos apresentam com seus comportamentos, respostas a esse desejo. 
Dessa forma, essa manifestação é uma via de mão dupla, e é por isso que em uma análise de crianças e adolescentes sempre estamos a conversar com os pais. Dessa forma, podemos instigá-los a se haver com esse desejo e, assim, implica-los na análise de seus filhos.
No texto, notamos que o pai do principezinho não suportou a tarefa de dar um “não” ao filho. E por quê? Porque isso significaria frustrar seu filho, mas também frustrar o próprio pai (que se fere ao supor a dor – ao seu entender, insuportável - do filho).
Com isso, observamos que para o filho resta a insatisfação constante, como na história, porque onde não há limites também não há possibilidade de satisfação, atingida somente pela ideia (ilusória, imaginária, é verdade, mas também necessária e imprescindível para que continuemos desejantes) de que, alcançando algo que almejamos muito e que nos exige esforço, seremos verdadeiramente felizes. 
Texto adaptado da matéria “Pequenos Tiranos” da revista Mente e Cérebro, Ano XV nº 179, escrito pela psicanalista Michele Roman Faria.
Cristiane ainda faz uma reflexão psicológica da relação entre pais e filhos. Leia a seguir: 

Por que é importante conversarmos com nossos filhos?



Desde muito pequeninos os seres humanos são ávidos pela comunicação, tanto é que, mesmo sem compreender o significado das palavras, os bebês respondem a elas com seus gestos, por isso não é incorreto dizer que as crianças precisam muito mais de amor, alegria, segurança e palavras do que de alimentação e higiene.

Ao refletirmos sobre essa necessidade de comunicação percebemos a importância que a permanência desse hábito deve ter em família. Notamos que desde muito cedo os bebês estão ligados aos adultos e isso não se modifica no decorrer da infância. Tudo o que os adultos próximos à criança fazem é visto como certo por ela e, assim, ela os imita em suas atitudes positivas ou negativas. Daí a importância das conversas sempre que possível.

O diálogo forma o ser e contribui para que as pessoas se conheçam melhor. Dialogar é trocar experiências, é pensar sobre os valores que devem ser respeitados, é discutir sobre os assuntos do mundo e da família, é falar de si mesmo.

Quando crianças e adolescentes podem dialogar em casa não precisam buscar espaço de comunicação apenas fora da família, pois serão os pais os grandes amigos e conselheiros e suas ideias sempre serão consideradas (mesmo quando – especialmente durante a adolescência – eles parecem não ouvir).

Além disso, quando criamos o hábito de falarmos de nós mesmos, os filhos se sentem à vontade para também falar de si mesmos, dos seus desejos, das suas realizações, dos seus sonhos e das suas angústias e inquietações. Dessa maneira, os pais podem penetrar no mundo dos filhos e, se possível, sem uma invasão abrupta, podem pensar junto nas melhores formas de alcançar os ideais e solucionar os problemas da vida.

Se os pais não costumam ter uma atitude comunicativa ou mesmo se tentam apenas impor suas ideias sem a presença das trocas, um abismo pode se abrir na relação com seus filhos e todos podem se tornar estranhos dentro de suas casas.

Quando o espaço para a conversa é aberto todos são beneficiados. Os adultos porque aprendem com as crianças, inclusive, aprendem a compreendê-las, escutá-las e, por outro lado, as crianças são beneficiadas porque aprendem a confiar nos adultos.

Essas atitudes são muito importantes e vão além do desenvolvimento social. Uma criança e adolescente que se sente à vontade com seus pais para falar de qualquer assunto vai também desenvolver sua autoestima, confiança, segurança, afetividade e aprendizagem de forma participativa e interessada.

Quando o que ocorre é contrário, ou seja, quando os pais são fechados e mantém certa distância comunicativa com seus filhos pode ocorrer para a criança e adolescente o desenvolvimento de baixa autoestima, falta de confiança em si mesmo e nos outros, insegurança, agressividade (como defesa) e na aprendizagem pode apresentar desinteresse e falta de atenção.
Que tal pensar na relação que você estabelece com seus filhos?

Cristiane Palmeira de Oliveira Barreto (CRP.06/42499-1) é mestre em Psicologia Clinica pela PUC de São Paulo e especialista em Psicanálise pela USP.

Se você tem perguntas relacionadas ao assunto do texto mande uma mensagem pra gente que ela responde.

Bjs

Mãe Neurótica.

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